domingo, 13 de fevereiro de 2011

Dualidade

E na cabeça ecoam palavras que não são exatamente minhas, mas que foram destinadas a mim “teu instinto, tão selvagem quanto um cio”. A meiguice, sempre tão fortemente presente nas menções que incluíam meu nome, meu jeito, meu gesto. E como é difícil quem acredita que eu seja uma, entender que em mim está pulsando também a outra. Que meu bicho, minha selvageria, não se desliga dos meus momentos racionais, delicadamente pensados, dos meus sentimentos construídos. Minha necessidade de ser gente que se choca e mescla com o desejo de ser só vontade, só instinto, só sensação. A leveza do viver existe juntamente com a firmeza do meu olhar. A dureza do meu viver existe na docilidade do meu sentir. A dor do meu sentir existe naquele meu choro que eu reprimi. Eu não posso e não consigo abafar por muito tempo os gritos animalescos que eu tenho aqui. Quando abafo, eu torno a me destruir. Eu sou muitas vezes puramente destruição, eu saio devastando qualquer boa-intenção que eu tenha comigo mesma. O corpo não mais agüenta as diversas vezes que descontei e ainda desconto minhas raivas, meu bicho preso nessa carapaça que me força a ser gente. Eu me forço a ser gente, gosto de me forçar a ser gente, refletir é meu vício; questiono tudo, menos onde jogo minhas parcelas que me ajudam a conviver comigo, e a me aceitar das únicas maneiras que eu ainda posso ser. Essa contradição das observações e opiniões alheias sobre mim, já me confundiram, grande besteira! Se uma em mim morre, a outra em pouco tempo definha. Uma parte de mim nutre a outra, e se esqueço de alimentar uma das duas, eu torno a me tornar um erro, um erro para mim e em mim. Se não grito, esqueço que tenho voz. Ser só silêncio me deixa rouca. Internamente eu nunca paro de berrar, há dentro de mim o desconforto daquela criança que acabou de nascer.