quarta-feira, 30 de novembro de 2011

E eu sei,
Que é de poesia,
E somente poesia,
Que é feita minha vida,
Minha escolha pela entrega,
Minha necessidade em não fugir da dor...

sábado, 5 de novembro de 2011

Venha cá, meu bem!

Não, não é exatamente conversar que eu quero. Cansei-me das palavras vazias, daquela imensidão de dizeres que nada me dizem. Eu só quero que venha, venha para mim. Chegue perto, não precisa ter medo. A chuva não vai entrar hoje; a água ficará lá fora. Eu sei que mais do que os outros, somos nós mesmos os responsáveis por essa inundação. Mais para quê tanta culpa? A culpa vem de onde? E vai para onde? Eu só queria caminhar com mais leveza, flutuar. Diz-me nesse abraço que tem jeito, que vai dar pé e que eu não vou me afogar.

uma pedra

uma pedra.
uma vida inteira tentando
não ser uma pedra.
que direito tinha eu?
não ser uma pedra!
uma pedra
no seu caminho,
no seu sapato,
com tantas pedras
em meus cruzamentos,
talvez direito tivesse.
mas eu não podia,
não podia ser
uma pedra,
no seu caminho,
no seu sapato.

domingo, 30 de outubro de 2011

Desabrocha o choque oculto.
Não me toque!

Numa pequena série de instantes.
Tudo novamente.

Inelutável reviver.
De novo, estúpida(!), provei.

Sabor do dissabor.
Amarga o paladar.

Dose extra de calmante.
Rosto cético.

Anestesiada...

domingo, 18 de setembro de 2011

Exponha-me então,
Mas faça-o totalmente,
Exponha-me inteira.

Suje-se com meu sangue,
Entre, mas saia;
E arraste tudo para fora com você.

Tenho tanto, não me subjugue.
Mostre!
Não somente o que te interessa.

É muita sujeira aqui dentro.
Prepare-se,
Portanto.

Ei querido,
Não desista agora!
Está todo mundo esperando,
Você anunciou!

Não estou sequer resistindo...

Exponha-me,
Exponha-me inteira!

sábado, 3 de setembro de 2011

monólogo interior.

Você não era tudo que me faltava, mas hoje, o vazio de mais uma falta. “Alguma coisa sempre falta. Guarde sem dor, embora doa, e em segredo”. O medo, talvez, é de que a ferida cicatrize e sua ausência se torne sequer sentida. A unidade dividida pode mesmo se reconstruir? A verdade é que pouco sei do que sinto por essa gente toda; carrego esse desejo quase sufocante de trazê-los e afastá-los ao máximo do meu caminho. Falências múltiplas de apenas me ser. Desregulagem do meu relógio. Estrangeiro de si mesmo, quem sabe não é isso? A dor de olhar-se verdadeiramente parecia o início de um perder-se, mas eu sempre soube que o achar-se teria de ser assim. Sim, a base estava invertida, nada ali poderia ser construído concretamente, seguramente. Aqueles limites também eram os meus. Eu devo isso, a você e a mim!Essa voz me vem num coro de mil vozes, de mil eras. Desencantou-se, aliás, nunca foi encantado...fui eu que te tingi com essas cores. Como ousa? Como ousa recusar meu magnetismo? Eu não posso opinar quanto à complexidade dos traços, mas imagino, devido à complexidade das intenções. O que o corpo pode falar. Sonho com movimentos. Para que eu me encontrasse com a minha potência. Fácil para quem tem no descanso do sono, o tempo de sonhar. Quando minha agenda me pegará desprevenida? O encontro só acontece para quem vai de encontro. As coisas não devem ser assim, a vida não precisa ser dura. Há boatos de que estavam querendo que a gente se sentasse no sofá da ignorância. A leveza que me finjo em terreno de pesados. Por tantas coisas já me tomaram sem que eu realmente as tenha sido. Não é questão de descobrir, é questão de desvendar. Um biscoito amanteigado para adocicar essa noite.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Rodei cinco vezes entre os meus dedos a flor vermelha de cinco pétalas. Olhei-a fixamente. Busquei respostas; em vão. A vida não dá respostas, e este velho dar-me conta já é também meu velho atordoamento. É tanto descuido, tanta displicência, tanta pressa. Qual horizonte vale o desprezo pelo momento que está agora em suas mãos? Eterno fazer-se, eterno cuidado. É muito frágil para este seu manuseio rápido e irrefletido. Demore-se na construção de um segurar firme.
Um, apenas um, “deixar-se levar”, e isso desmancha, escorre com rapidez implacável entre os dedos desta mão, que escolheu-se frouxa.

domingo, 5 de junho de 2011

De como meu exterior é meu instrumento de representar, refletir, proteger meus momentos.

Não foram dias em que não senti; dispus meus sentidos de forma cautelosa.
Deixei meus olhos um pouco mais secos, inexpressivos.
O que deixei que outros vissem foi somente a figura que não me representa.

Minha relação ante a minha aparência é assim;
É algo que ultrapassa uma cobrança daquele
que vê beleza no que não nasce de dentro.

Bonito é aquele gesto construído na delicadeza
de quem sente profundamente os viveres.
O feio também, e assim, ainda tão bonito para mim.
Fogo nos olhos; substância, cor, cheiro na/de vida.
Pulsações que se aceleram por toques,
palavras que mergulham neste abismo que carrego.

Tenho pausas que se estendem e se instauram...
Alastram-se no meu corpo, na minha expressão,
no tom da minha voz e das minhas cores.
Mudo meu aspecto, minha fisionomia,
algo em mim quer ser mais forte,
torno-me, desta maneira essencialmente mais frágil.

Só quem continuadamente me vê e não me enxerga,
não é capaz de perceber:
Que minha paz depende do meu conflito;
que não suporto essa fase em que me obrigo
a passar com certa freqüência.
Fase murcha, morna, concreta, seqüencial;

Eu sou daquela que se navega,
E não da que é levada pelo mar
.

terça-feira, 31 de maio de 2011

Docilidão

Retalho só, só, só.

Almofada feia.
Cobertor rasgado.

Cachecol de voz rouca;
Louca.

Tanto gritar,
Pelo silêncio de um só,
Só, só.

Mordacidade,
Corrosão.

Não dá mais,
Foi-se o tempo;
Calcinado...
Docilidão.

sábado, 9 de abril de 2011

Sobre como tem sido...

Fui em frente, mas parei, descobri que o caminho que me disseram que era o melhor estava na contramão dos meus sonhos, do que eu acredito. Regrido para alguns; avanço na descoberta de mim. Meus passos, que por vezes se mostraram tímidos ou desconfiados, seguem e seguem calejados. Eu não havia percebido, mas estou em fase de recuperação. Não, não tenho nenhum transtorno físico, psíquico ou mesmo emocional, o que me assola é muito mais e/ou muito menos, não importa; nunca consegui tornar-me ou mesmo tornar minhas angústias explicáveis. Eu falo, mas sempre acabo falando em outra coisa, as outras coisas parecem ser imploradas e o que não importa é sempre o que interessa. Dizer claramente sobre minhas questões mais profundas, em linhas objetivas e esclarecedoras, nunca foi, hoje não é e acredito que nos próximos amanhãs também não será, onde reside a minha força. Mas a fruição das minhas subjetividades em papéis bonitos, feios, rasgados, sujos, decorados, virtuais, reais, é meu alento, meu fôlego e minha maior coragem. Há alguns dias, seguindo a “lógica” acima explicitada, tenho estado covarde e ferindo gravemente meu próprio tratamento. Meus papéis estão em branco, a mão que me desengasgava só tem escrito o que me engasga ainda mais. Eu não tenho cuspido, não tenho vomitado e não tenho conseguido dialogar com as palavras sobre meus morreres e nasceres diários. Parece uma grande bobagem; mas o fato é que estive em muitos dias, e nestes, fixei em muitos olhares, descobri novas pessoas, estive em outros becos, mergulhei em outros recifes, senti o cheiro de novas flores, tateei ríspidas texturas, chorei em outros medos, desesperei-me frente ao exagero de estar aqui, vivendo; e nada, as palavras ainda não sentiram nada disso, e meus escritos (que reforço: não desejo que me traduzam) não me ajudaram a deglutir e posteriormente digerir nada, nada disso. Que seja um curto espaço de tempo, mas eu quero resgatá-lo em minha maneira; quero me reconciliar, não comigo, mas com aquilo que desobstrui meus poros, que reforça minha voz, que faz meus cambaleantes passos serem um pouco mais firmes, ou seja, meus dedos enlaçarem uma caneta (ou qualquer objeto que tenha os mesmos fins), meus olhos se enxerem de vigor, e os papéis voltarem a serem refúgios para nadas tão cheios de tudo e tudos tão cheios de nada.

Obs: e que esse escrito tão sincero seja meu grande desentupidor.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Dualidade

E na cabeça ecoam palavras que não são exatamente minhas, mas que foram destinadas a mim “teu instinto, tão selvagem quanto um cio”. A meiguice, sempre tão fortemente presente nas menções que incluíam meu nome, meu jeito, meu gesto. E como é difícil quem acredita que eu seja uma, entender que em mim está pulsando também a outra. Que meu bicho, minha selvageria, não se desliga dos meus momentos racionais, delicadamente pensados, dos meus sentimentos construídos. Minha necessidade de ser gente que se choca e mescla com o desejo de ser só vontade, só instinto, só sensação. A leveza do viver existe juntamente com a firmeza do meu olhar. A dureza do meu viver existe na docilidade do meu sentir. A dor do meu sentir existe naquele meu choro que eu reprimi. Eu não posso e não consigo abafar por muito tempo os gritos animalescos que eu tenho aqui. Quando abafo, eu torno a me destruir. Eu sou muitas vezes puramente destruição, eu saio devastando qualquer boa-intenção que eu tenha comigo mesma. O corpo não mais agüenta as diversas vezes que descontei e ainda desconto minhas raivas, meu bicho preso nessa carapaça que me força a ser gente. Eu me forço a ser gente, gosto de me forçar a ser gente, refletir é meu vício; questiono tudo, menos onde jogo minhas parcelas que me ajudam a conviver comigo, e a me aceitar das únicas maneiras que eu ainda posso ser. Essa contradição das observações e opiniões alheias sobre mim, já me confundiram, grande besteira! Se uma em mim morre, a outra em pouco tempo definha. Uma parte de mim nutre a outra, e se esqueço de alimentar uma das duas, eu torno a me tornar um erro, um erro para mim e em mim. Se não grito, esqueço que tenho voz. Ser só silêncio me deixa rouca. Internamente eu nunca paro de berrar, há dentro de mim o desconforto daquela criança que acabou de nascer.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Guarde para você!
Se não quer que
o que você diga
fique guardado em mim,
guarde para você!

Há de entender um dia,
que maior é aquilo
que já se guardava
no coração.

E que o gesto,
pode ser pior ou melhor,
quando já existia
na intenção.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Ganhar em vida.

Eu perco, eu perco meu domínio, para que eu possa ganhar mais vida. Quero alertas atrapalhadas. Inesperados focos que chamem minha atenção. Fatos que disfoquem a visão. Visão que se recrie com meus olhos fechados. Sentidos que se apurem. Gostos a serem provados. Arrepios internos se manifestando para o sentido tátil. Que o profundo atinja a superfície, que pode ser vista, tocada. Trocas de experiências e experimentações pela madrugada adentro. Adentro em terras que permaneciam desertas. Acho fontes que jorram águas escondidas num clima que se jurava árido, juro que te fertilizarei.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Ponto.

Pois do conto que me conta, o final foi colocado antes do ponto. Pontuo neste canto minhas dores de linhas vazias que não serão nunca preenchidas. A página em branco alerta o quanto as palavras tornaram-se mudas. Este silêncio que atordoa é da voz calada por imposição de um ponto que rejeitou a vírgula embaixo. Final que te impediu de cantar o término do teu canto. Conto agora que tenho meu canto cativo que não foi escrito, mas é onde posso me refugiar. Aquilo que nunca foi e nem poderá mais ser contado. É onde não cabe o final, não cabe o ponto, não cabe e pronto!