quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Palavra

Sobre quanto tempo ficou parada
A palavra que nunca se coube,
Do instante que nunca se teve.
Banhou, inundou cada uma daquelas
Vírgulas reticenciadas.
Descobertas como vadias.
Disseram bonita, forte, real.
Por muito acreditou.
Fez até que se teve.
Ainda assim era a palavra,
A palavra que nunca se soube,
Do instante que nunca se fez.

Agora parta, parta!
Parta com aquele que te pariu!

sábado, 25 de setembro de 2010

Grandes coisas.

Sensação de não-pertencimento.
Eu não pertenço aqui;
Nem ali, nem acolá.

Se nenhuma coisa me habita,
Não habito coisa nenhuma.
Não habito coisa nenhuma!
Coisa alguma me habita.

Não me peça pra pertencer a
Aquilo que não toca
O que me pertence.

Eu não pertenço à coisa nenhuma.
Coisa nenhuma me pertence.
Eu não habito aqui;
Nem ali, nem acolá.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Os esboços de mim que nunca acabo, nenhum deles; porém junto-os e me faço.
Que poderia ser eu senão a união de meus mal-acabados traços?

Surpreendo as linhas e engano pontos-finais.
Lembro uma escada espiralada que desvia de qualquer fim que apresente seus sinais.

Novas significações para os elementos que escaparam de seus conjuntos.
Se recusam a serem lembrados como meras adições de seus adjuntos.

Se fazer-se novas coisas pode contradizer às anteriores; ótimo,
como qualquer contradição apresentada, não há como escapar de seus próprios temores.

E dos brancos frios de meus cadernos, jorram e borram tintas densas;
na imensidão de meus desenhos não haveria como cada forma não se tornar cada dia mais intensa.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Integralidade comprometida.

A integralidade minha ante as minhas relações anda comprometida, fragilizada.
De um lado, estão bem definidos os traços do que esperam e podem esperar de mim e do que quer que eu seja; de outro, nada espera nada de mim até que eu bem traceje minhas possibilidades.
Duas situações que se complementariam, mas em verdade, só se contradizem...pois o tempo não permite que nenhuma delas se estabeleça de forma que eu as integre, e me entregue, totalmente. Se estou lá, não posso estar cá; se estou cá, não posso
estar lá. Em ambos os estares, eu não consigo realmente estar.
Em suma, não posso estar lá, nem cá.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

É nisto...

É nisto que se esvai.
Que não é nem quando,
nem onde, nem porque.

É na rã que coaxa
sua própria normalidade.
Chega perto a mosca azeda...

O caminho se auto-avisa.

sábado, 11 de setembro de 2010

Irritação cutânea;
que adentra aos poros
e invade o corpo todo.
Impaciência que toma
todo fato de mim.
Fatos que não me alcançam,
lêem em braile
essa minha superfície.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Barulhos com unhas compridas.

Os barulhos de fora ainda são leváveis, mais fáceis de detectar. Os de dentro estão aqui, quase como filhos arranhando a bolsa para estourá-la...e não sei se somos capazes realmente de esperar a hora certa de parir, me parecem estar sempre nascendo prematuros ou mortos pelo atraso. É que apesar dos avisos insistentes, faltam setas para orientar seus paradeiros.