Acordar sem o despertador, no momento em
que seu corpo se sentir descansado. Preparar um café no coador, degustando
absolutamente daquele cheiro de que tanto gosta. Alongar o corpo, redescobrindo
aquelas articulações há tanto tempo esquecidas. Acender o incenso preferido.
Sentir uma música. Estender o tempo de preparo do seu alimento, dedicando amor
(e não Sazon) em cada mexida da colher. Pensar no que realmente deseja comer.
Respirar profundamente. Olhar no fundo dos olhos do seu bichano, e retribuir
com um carinho sincero, toda confiança que ele deposita em você e toda proteção
e companhia que lhe oferece. Colocar aquele vestido solto e colorido que tanto diz
sobre você. Sentir o cheiro do amaciante da roupa. Declamar uma poesia em cada
canto de sua casa. Lembrar-se de onde veio, e de como chegou até aqui. Reviver
o passado com carinho, mas sem esquecer a dureza de alguns aprendizados. Sentir
saudade deste mesmo passado, embora não deseje repeti-lo. Deixar-se chorar
pelas lonjuras, mas ao mesmo tempo, compreender em sentimento que não está
sozinho. Agradecer a solidão física, ainda que queira maldizê-la. Saber
agradecer sem se deixar acomodar. Voltar-se aos velhos sonhos e anseios. Recolocar
em sua vida, a história e a utopia. Revestir de sentido suas atuais ocupações. Descobrir pelo que luta. Encontrar seu centro de apoio. Não acreditar que todo chão é movediço, que toda
construção se dissipa no ar, de que todo fim é iminente. Não se desesperar. Exigir
o respeito. Dedicar-se à difícil tarefa de saber o que você pensa sobre si
mesmo, e não a autoimagem que os outros te fizeram construir. Saber-se dotado
de valor. Conversar de maneira transparente e profunda seja com humanos, bichos
ou plantas. Ter amigos verdadeiros de todas as idades, e das mais distintas personalidades. Não se amarrar a
opiniões pré-construídas. Dedicar atenção e seriedade ao que o outro diz, seja
ele quem for. Não permitir que te empacotem, que te etiquetem, que te engavetem. Duvidar,
mas também acreditar. Calcular amadoramente o tanto de verde que te circunda, e
se lhe parecer uma quantia insuficiente, fugir para o mato mais próximo. Viajar
para rever afetos – mesmo que o tempo que corre egoisticamente faça sua decisão parecer loucura. Não ser soterrado e não ser refém do tempo e de suas próprias
escolhas. Brincar com o medo. Permitir que te conheçam. Permitir conhecer-se.
Ser descobridor de seus próprios prazeres. Nunca cair na armadilhar de incutir-se
autossuficiência. Reconhecer quando deve colocar-se como prioridade. Construir
um desvio para o cansaço. Cuidar de si.
domingo, 29 de março de 2015
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