domingo, 29 de março de 2015

Autocuidado.

Acordar sem o despertador, no momento em que seu corpo se sentir descansado. Preparar um café no coador, degustando absolutamente daquele cheiro de que tanto gosta. Alongar o corpo, redescobrindo aquelas articulações há tanto tempo esquecidas. Acender o incenso preferido. Sentir uma música. Estender o tempo de preparo do seu alimento, dedicando amor (e não Sazon) em cada mexida da colher. Pensar no que realmente deseja comer. Respirar profundamente. Olhar no fundo dos olhos do seu bichano, e retribuir com um carinho sincero, toda confiança que ele deposita em você e toda proteção e companhia que lhe oferece. Colocar aquele vestido solto e colorido que tanto diz sobre você. Sentir o cheiro do amaciante da roupa. Declamar uma poesia em cada canto de sua casa. Lembrar-se de onde veio, e de como chegou até aqui. Reviver o passado com carinho, mas sem esquecer a dureza de alguns aprendizados. Sentir saudade deste mesmo passado, embora não deseje repeti-lo. Deixar-se chorar pelas lonjuras, mas ao mesmo tempo, compreender em sentimento que não está sozinho. Agradecer a solidão física, ainda que queira maldizê-la. Saber agradecer sem se deixar acomodar. Voltar-se aos velhos sonhos e anseios. Recolocar em sua vida, a história e a utopia. Revestir de sentido suas atuais ocupações. Descobrir pelo que luta. Encontrar seu centro de apoio. Não acreditar que todo chão é movediço, que toda construção se dissipa no ar, de que todo fim é iminente. Não se desesperar. Exigir o respeito. Dedicar-se à difícil tarefa de saber o que você pensa sobre si mesmo, e não a autoimagem que os outros te fizeram construir. Saber-se dotado de valor. Conversar de maneira transparente e profunda seja com humanos, bichos ou plantas. Ter amigos verdadeiros de todas as idades, e das mais distintas personalidades. Não se amarrar a opiniões pré-construídas. Dedicar atenção e seriedade ao que o outro diz, seja ele quem for. Não permitir que te empacotem, que te etiquetem, que te engavetem. Duvidar, mas também acreditar. Calcular amadoramente o tanto de verde que te circunda, e se lhe parecer uma quantia insuficiente, fugir para o mato mais próximo. Viajar para rever afetos – mesmo que o tempo que corre egoisticamente faça sua decisão parecer loucura. Não ser soterrado e não ser refém do tempo e de suas próprias escolhas. Brincar com o medo. Permitir que te conheçam. Permitir conhecer-se. Ser descobridor de seus próprios prazeres. Nunca cair na armadilhar de incutir-se autossuficiência. Reconhecer quando deve colocar-se como prioridade. Construir um desvio para o cansaço. Cuidar de si.