sexta-feira, 24 de julho de 2015

“Viver é jogo, é risco. [...] perder também faz parte do jogo. Quando isso acontece, ganhamos alguma coisa de extremamente precioso: ganhamos nossa possibilidade de ganhar.”


Tanto se confunde enquanto falo com aqueles olhos. “Quando já tudo o que me importava se foi, quando fui exposta ao vazio de nada mais ter, voltei – finalmente – meus olhos para os essenciais. E que surpresa! Eu era toda feita de possibilidades. E tinha muito, muito mesmo.”. Deixe-me confessar: eu, quando contigo, não falo mesmo contigo; culpa pura dos seus olhos. Você fala bem (bem até demais!). Mas seus olhos... Ah, seus olhos ainda não foram batizados para a mentira do mundo.  Gosto tanto, tanto deles que até me espanto! E vou até eles como quem busca mesmo o espanto. Quero descortinar-me! Ali na esquina sou pega pelo desejo. O desejo de renascer sem batismo. E me pego tendo que mentir - pelas palavras e com os olhos. Fecho-os, palavra e olhos, no abraço. Eu poderia morar ali por décadas (E como isso é sincero!). Ganho ou perco? Já não sei. Expor-me ao risco era só mais uma das possibilidades. 

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Torna-te terreno habitável...

... E aceite a intranquilidade de morar dentro de si. 

Não pedirei desculpa. Necessito mesmo que não tire a culpa de mim. Quero carregá-la. Cultivá-la em ódio e amor extremados. Calma, calma. Não me entenda mal. Não me refiro, nem na hipótese mais longínqua, à culpa ancestral - àquela perversa culpa que tentaram enfiar em mim a mil mãos, em meu corpo, em meu pensamento, em minha imaginação (este último, crime inafiançável). Não, não me refiro à culpa castradora, que se alocou em mim muito antes de qualquer porvir de autoconsciência. A verdade mesmo é que utilizo, neste momento, de seus termos. Bem melhor seria se eu falasse em auto-responsabilização. Nem mesmo sei se essa palavra existe. Mas se não existe, o ato, ao menos, tem de existir! Eu quero responsabilizar-me. Meu direito! Minha condição (nossa única condição!). Tirar isso de mim é instaurar-me a confusão maior. Sem direção, sem base, sem chão. Solta, desorientada, desnorteada; em suma, completamente perdida. Preciso saber-me responsável – inteiramente responsável – pelo que provoco, pelo que aceito, mas antes mesmo de tudo isso, pelo que busco. Ah, quanto menos eu me encontraria em minha trajetória se não fossem essas tantas respostas ao que busco... Respostas por vezes cruéis, incompreensíveis. Surpreendentes na medida em que me desmascaram. O que ando buscando mesmo? Talvez eu não saiba ao certo. Ou talvez para estraçalhar este orgulho de quem julga que sabe algo de si, meus mergulhos tanto me contradigam, me ignorem, me ofendam. Quem me ofende sou mesmo eu. Ofensa de amor atrapalhado, imaturo. Revolucionário! Poderíamos mudar o mundo? Posso mesmo morar aqui, dentro de mim? Desassossego. Nômade do mundo! Mas preso dentro de si.