sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Era só isso.

Vem se aproximando.
Chega num tanto considerável de proximidade que possibilite alguma claridade para o 'olhos nos olhos', e alguma clareza da voz – e do que vem a ser dito – para os ouvidos.  
Encontra.
Olha-o com profundidade e sentencia (sem nenhuma espécie de rodeio):
- Eu te amo!

Ele, de imediato, se assusta.
Toma fôlego, se situa.
(“deve estar bêbada e me confunde com outro”)
Resolve tirar vantagem da situação.
Aproxima-se mais.
Toca delicadamente sua face, acariciando os contornos... E enlaça - com força - sua cintura.

- Você está confundindo as coisas.
(“deve ter retomado a consciência”)
Arrisca:
- Mas... você que disse que me amava.
- Sim, eu disse.
- Então..?
- Então que... Observando a maneira como dança, como se debruça no balcão para pedir bebida, como segura a garrafa ao servir-se; bom, eu não sei, eu me senti te amando. E senti que queria te dizer.

(“maior deixa que essa, não existe!”)
Empurra-a na parede, forçando seu corpo contra o dela.
Ela, com o corpo esmagado, resiste:
- Me perdoe. Eu não quis te criar obrigação para o agir, essa obrigação que sei que vem do que esperam de você. Era só vontade de dizer. Julguei que seria gostoso ouvir. Era só isso. Mas perdão, eu realmente percebo o engano de ter dito.
Ele a olha espumando em raiva:
- Você é louca!

Vira-lhe as costas.
[Não sentiu vontade de voltar a dançar, nem de ir ao balcão pedir bebida.
Foi embora...

... visivelmente atordoado.]

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

cumplicidade.

um. dois. três. quatro.
c i n c o.
seis. sete. oito...
... e mais um tanto de rostos com desenhos desconhecidos - que não fazem parte de meu repertório de retratos já vistos -. 
outro tanto de bancos vazios que lhes fazem companhia. 

companhia para os olhos fixos numa leitura que embala.

companhia para os olhos desesperados pelo relógio que acelera.
companhia para os olhos baixos e marejados pelas frases que não se queria ouvir naquele momento - e talvez, nunca - e daquela maneira - ou de maneira alguma. 

eu percorro esses bancos assumindo cada face, cada expressão e cada sentir; ao passo que não lhes posso oferecer sequer companhia. sou simples passante - e tenho de cumprir com o que se espera de um passante. 

me confundo ante tanta regra que nos separa e tanto sentimento que nos junta. todos entendemos que o todo e o cada de cada um, é também nosso. 
mas há o cartaz amarelo das consciências de Drummond que nos alerta que essa compreensão só pode ser expressa no silêncio.
silêncio de cumplicidade.
silêncio de comunhão. 

sábado, 7 de setembro de 2013

Ainda um tanto estonteada, tenta alcançar mínima compreensão. Quem será este com quem se encontra face a face, corpo a corpo?
Corpo não reconhece. 
(e, ainda que force, é corpo frio, corpo frígido.)

Um cheiro espalhado de coisa que morre, coisa que morre sem fazer barulho.
- ainda que fatigada de lutar pelo contrário –

Fechar os olhos e ninguém conseguir alcançar pelo sentir. (“Proteja-se da tentativa de sentir! Faz tempo que nada mais há por aqui.” - diz-lhe a voz que emana da planta murcha).

Olha para dentro de si, especula o espaço a fim de encontrar nas reminiscências algum instante de delicadeza. Mas, naquele lugar... cuidado não conseguiu fazer morada; afeto não conseguiu encontrar alimento.
Ali... instante em que concepção e morte se confundem, não dando chance pra vida.

Saber que nem tudo deseja viver...
(e que nem toda escolha -  dentre as inúmeras possibilidades de fazer-se - vem acompanhada do desejo de fazer florescer).

Triste?... Um bocado.

Mas hora clara!