sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Abastado do que não se basta.

Ah, então não bastava rodar o mundo,
Era preciso, quem sabe, saber
Que o mundo roda também
Em cada poeira de sala,
Em conversas de sofás.
Pouco a pouco sair assim,
Como quem nada quer,
Pros recantos esquecidos.
Afundados nas visões;
Que continuam alheias
A tudo que não se presta,
A lidar com a concretude.
Olhe para lá,
Tem vida acontecendo,
Tem muito mais do que esse
Nascer e morrer.
Tem necessidade,
De ser ouvido, de ser calado,
De falar no silêncio.
Tem olhar que não desvia,
Que suplica, implora,
Que quer ser encarado.
Encare isso...
Tem vida acontecendo
Muito além de suas beiras
Muito além de seus desejos
De se encontrar com o longínquo.
Olhe para o lado,
Livre-se um pouco dessa obsessão
De olhar sempre pra frente.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Sim, é verdade, eu existo. E por mais vezes que eu tenha duvidado, ou simplesmente tentado ignorar essa condição, sempre me vem esse gosto estranho de vida, esse “eu existo”. O que será que isso quer dizer? Bom, não entro nesse âmbito; racionalizar essa sensação me levaria à loucura, apesar de que muitas vezes, assim tentei fazer. Mas é isso, às vezes no meio da xícara de café, caminhando rumo a qualquer lugar, ouvindo aquela voz conhecida, vem o atordoamento... Sou alguém, sou alguém no mundo. Talvez fosse melhor que eu não me desse conta, que eu seguisse sem saber. É um esclarecimento que procuro, sabendo que não virá; não pode vir. Não tem jeito, não tem cura... Tem essa existência que não se explica nunca, sempre tão vaga, sempre tão bruta e ao mesmo tempo sempre tão delicada. Eu me perturbo e não reclamo, sei que não escolhi e que ninguém escolhe. Reclamar para quê? Para quem? Tenho direitos por aqui estar? Não devo ter vindo esperando nada mesmo; fico esperando agora, simplesmente porque vivo criando coisas as quais devo esperar. Acho que é disso que me alimento, é por isso que agüento, porque crio, crio paixões por esses assuntos que aqui já estavam muito antes de mim. Crio subterfúgios para escapar do que poderia ser um constante incômodo; sou evasiva ante essa questão. Sei onde posso chegar por tanto me perguntar, por tanto perguntar à vida. Não chegam as respostas, só me chegam desvios. Desvio, porque seguir sempre reto me parece mais banal do que essa busca pelo que sei que não posso encontrar. Certa vez disse a mim mesma que viveria de minha busca, não sei se fui eu que determinei para mim essa lei, ou se simplesmente constatei e admiti-a. Sei que pelo menos assim, não estabeleço horizontes limitadores os quais devo chegar; não quero metas, quero meios. Recheios de vida, já que terei que abocanhá-la.

domingo, 10 de outubro de 2010

Poemocular.

Teus olhos com essa moldura,
que enquadra os olhos meus.
Estilhaço esses vidros quadrados,
para invadir os quadros teus.

Não deixe que se quebre
a magnitude do limitar.
Sei que muito nestes olhos,
faz com que deixes de enxergar.

sábado, 9 de outubro de 2010

O fogo no meio da mata,
Acende, não mata,
O medo do povo.

O povo no meio da mata,
Acende, não mata,
O medo da mata.