quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Lembrar que não sei esquecer.

Memória acumulada. Viver talvez seja lembrar umas e construir outras memórias. Algumas que insistem em pular de um lado para outro da balança; querem enlouquecer a balança, ou a mim? Não sei se me esgotam ou se me aliviam. Colecionar lembranças: tarefa não tão fácil. Ainda não coleciono muitos anos, diria que possuo bem poucos anos marcados na minha carteira de identidade. Talvez o peso das lembranças nada tenha a ver com os anos contabilizados. Os anos não determinam como vivê-los, e nem o que será posteriormente tê-los vivido. As lembranças futuras são tão enigmáticas quanto às vivências futuras. Ninguém se atenta a como é difícil também lembrar. Lembrar é dar-se conta. Dar-se conta do que foi, do que não foi. Dar-se conta das faltas e dos excessos, e dos excessos de faltas e da falta de excessos. É não ter como escapar do já feito. Se viver é não poder fazer um rascunho, lembrar é não poder usar as borrachas, nem rasurar qualquer mínima memória. As memórias permanecerão intactas, como no dia em que aconteceram. Ainda há aqueles que querem me convencer que aprenderam a esquecer; esquecer da vida que já viveu, é um recurso que a vida, definitivamente, não dá, nunca deu.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Miscelânea mental.

Nesse risco novamente me arrisco. Certa vez ouvi ser preciso idolatrar a dúvida. Aquilo me emociona e eu não sei porque. Tudo novamente sujo, já cansei de limpar. Vai, eu não ligo, não preciso de você! Vou me jogar no mar. Traços encantadores os seus. Me acompanha? Eu não sei para onde estou indo, mas podemos chegar em algum lugar. Não me leve a mal, não é que eu não quero, eu não consigo mesmo. Não me atente para as minhas próprias faltas. Sinto na pele o que me causam. Gostei disso, o que quer dizer? Aliás, não explique, está tão bom gostar. Acho que ficarei mais um tempo por aqui. Quantas vozes inúteis. Você veio! Escute, pegue aquele livro em cima da cabeceira e leia baixinho em meus ouvidos. De estridente já basta a vida. Sabe o pé de acerola? Cortaram. O vinho vai ter que ficar para depois, a indisposição me tomou conta. Afogaram a calma! Ninguém vê. Essas discussões ficam, para sempre. Memória farta, porque não falha? Isso aqui não é um jogo. Mas não era para isso acontecer agora! Eu estou do seu lado. Acredite, vai ficar tudo bem. É, não deu, achei que pudesse ser capaz. Quando sair, por favor, apague a luz. Sinto sua falta, eu era mais leve com você. É, também sinto minha falta. Saudade daquela que eu não consegui ser. Velharias do espírito. Mataram, os dois. Quantas especulações! Pra quem vive mergulhado em si, não é preciso essas pontes. Ponte é para fugir, para fingir. Não preciso nem assumir, sempre deixei tudo tão claro. Você me confunde! Não, não, não quero fumar, obrigado. Trago comigo. Hum, que horas será que são? Nossa, estou atrasada! Chegou a hora de acordar!

domingo, 14 de novembro de 2010

Ainda é cedo, amor.


Estamos há tempos num estado permanente de alegria, desde o dia em que uma criança de cabelinhos brancos bateu na porta de nossa vida. Abri essa porta sem me questionar, sem te questionar. Um gesto leve que carregava uma carga pesada, carregava todo o peso do mundo; tudo, embutido numa só pessoa. Aquela senhorinha, que pelo tamanho até enganou, mas pela força das palavras e dos olhos não! Aceitou, com sua força que nunca secou, todas as lições, todos os enganos, todas as peças pregadas pelo destino.
Hoje, as lágrimas vieram, mas não por meus sentidos captarem as grandes lições de suas palavras; as lágrimas hoje vieram, pois tive, e terei por muito tempo, de me haver com o silêncio. Não tem festa, não tem comemoração; mas você teve seu tempo de estréia. Sua estréia foi na vida, sua estrela vem para o nosso céu.
Nesse dia, mais um lição você nos dá: ser protagonista da própria vida. Hoje você foi nossa protagonista, querida Eli. E agora, minha tatuagem, verdadeiramente e finalmente, solte seus palavrões!

“Ainda é cedo, amor/ Mal começaste a conhecer a vida/ Já anuncias a hora de partida/ Sem saber mesmo o rumo que irás tomar./ Preste atenção, querida/ Embora eu saiba que estás resolvida/ Em cada esquina cai um pouco a tua vida/ Em pouco tempo não serás mais o que és./ Ouça-me bem amor/ Preste atenção, o mundo é um moinho/ Vai triturar teus sonhos tão mesquinhos/ Vai reduzir as ilusões a pó./ Preste atenção, querida/ de cada amor tu herdarás só o cinismo/ Quando notares estás a beira do abismo/ Abismo que cavaste com teus pés. ”
(O mundo é um moinho – Cartola)

Ps: Obrigado Cartola, por esse samba tão bem feito para Eli...!
E obrigado Eli, por ser um dos meus maiores exemplos de mulher/ atriz/ ser humano.

Eu te amo...

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Você vem?

Talvez você nem viesse...
Se visse como fiquei,
Quando pensei que
Você não mais viria.
Não penso,
Porque hoje vejo,
Que talvez você venha.
Se for vir,
Chegue assim,
Como quem veio,
Porque sempre quis,
Que eu também viesse.
Venho pelo que me veio;
Vou sem saber,
Para onde é que você vai.
Vamos...
Já que já viemos,
Já que já vimos,
Que talvez,
Não mais tenhamos,
Para onde ir.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Abastado do que não se basta.

Ah, então não bastava rodar o mundo,
Era preciso, quem sabe, saber
Que o mundo roda também
Em cada poeira de sala,
Em conversas de sofás.
Pouco a pouco sair assim,
Como quem nada quer,
Pros recantos esquecidos.
Afundados nas visões;
Que continuam alheias
A tudo que não se presta,
A lidar com a concretude.
Olhe para lá,
Tem vida acontecendo,
Tem muito mais do que esse
Nascer e morrer.
Tem necessidade,
De ser ouvido, de ser calado,
De falar no silêncio.
Tem olhar que não desvia,
Que suplica, implora,
Que quer ser encarado.
Encare isso...
Tem vida acontecendo
Muito além de suas beiras
Muito além de seus desejos
De se encontrar com o longínquo.
Olhe para o lado,
Livre-se um pouco dessa obsessão
De olhar sempre pra frente.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Sim, é verdade, eu existo. E por mais vezes que eu tenha duvidado, ou simplesmente tentado ignorar essa condição, sempre me vem esse gosto estranho de vida, esse “eu existo”. O que será que isso quer dizer? Bom, não entro nesse âmbito; racionalizar essa sensação me levaria à loucura, apesar de que muitas vezes, assim tentei fazer. Mas é isso, às vezes no meio da xícara de café, caminhando rumo a qualquer lugar, ouvindo aquela voz conhecida, vem o atordoamento... Sou alguém, sou alguém no mundo. Talvez fosse melhor que eu não me desse conta, que eu seguisse sem saber. É um esclarecimento que procuro, sabendo que não virá; não pode vir. Não tem jeito, não tem cura... Tem essa existência que não se explica nunca, sempre tão vaga, sempre tão bruta e ao mesmo tempo sempre tão delicada. Eu me perturbo e não reclamo, sei que não escolhi e que ninguém escolhe. Reclamar para quê? Para quem? Tenho direitos por aqui estar? Não devo ter vindo esperando nada mesmo; fico esperando agora, simplesmente porque vivo criando coisas as quais devo esperar. Acho que é disso que me alimento, é por isso que agüento, porque crio, crio paixões por esses assuntos que aqui já estavam muito antes de mim. Crio subterfúgios para escapar do que poderia ser um constante incômodo; sou evasiva ante essa questão. Sei onde posso chegar por tanto me perguntar, por tanto perguntar à vida. Não chegam as respostas, só me chegam desvios. Desvio, porque seguir sempre reto me parece mais banal do que essa busca pelo que sei que não posso encontrar. Certa vez disse a mim mesma que viveria de minha busca, não sei se fui eu que determinei para mim essa lei, ou se simplesmente constatei e admiti-a. Sei que pelo menos assim, não estabeleço horizontes limitadores os quais devo chegar; não quero metas, quero meios. Recheios de vida, já que terei que abocanhá-la.

domingo, 10 de outubro de 2010

Poemocular.

Teus olhos com essa moldura,
que enquadra os olhos meus.
Estilhaço esses vidros quadrados,
para invadir os quadros teus.

Não deixe que se quebre
a magnitude do limitar.
Sei que muito nestes olhos,
faz com que deixes de enxergar.

sábado, 9 de outubro de 2010

O fogo no meio da mata,
Acende, não mata,
O medo do povo.

O povo no meio da mata,
Acende, não mata,
O medo da mata.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Palavra

Sobre quanto tempo ficou parada
A palavra que nunca se coube,
Do instante que nunca se teve.
Banhou, inundou cada uma daquelas
Vírgulas reticenciadas.
Descobertas como vadias.
Disseram bonita, forte, real.
Por muito acreditou.
Fez até que se teve.
Ainda assim era a palavra,
A palavra que nunca se soube,
Do instante que nunca se fez.

Agora parta, parta!
Parta com aquele que te pariu!

sábado, 25 de setembro de 2010

Grandes coisas.

Sensação de não-pertencimento.
Eu não pertenço aqui;
Nem ali, nem acolá.

Se nenhuma coisa me habita,
Não habito coisa nenhuma.
Não habito coisa nenhuma!
Coisa alguma me habita.

Não me peça pra pertencer a
Aquilo que não toca
O que me pertence.

Eu não pertenço à coisa nenhuma.
Coisa nenhuma me pertence.
Eu não habito aqui;
Nem ali, nem acolá.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Os esboços de mim que nunca acabo, nenhum deles; porém junto-os e me faço.
Que poderia ser eu senão a união de meus mal-acabados traços?

Surpreendo as linhas e engano pontos-finais.
Lembro uma escada espiralada que desvia de qualquer fim que apresente seus sinais.

Novas significações para os elementos que escaparam de seus conjuntos.
Se recusam a serem lembrados como meras adições de seus adjuntos.

Se fazer-se novas coisas pode contradizer às anteriores; ótimo,
como qualquer contradição apresentada, não há como escapar de seus próprios temores.

E dos brancos frios de meus cadernos, jorram e borram tintas densas;
na imensidão de meus desenhos não haveria como cada forma não se tornar cada dia mais intensa.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Integralidade comprometida.

A integralidade minha ante as minhas relações anda comprometida, fragilizada.
De um lado, estão bem definidos os traços do que esperam e podem esperar de mim e do que quer que eu seja; de outro, nada espera nada de mim até que eu bem traceje minhas possibilidades.
Duas situações que se complementariam, mas em verdade, só se contradizem...pois o tempo não permite que nenhuma delas se estabeleça de forma que eu as integre, e me entregue, totalmente. Se estou lá, não posso estar cá; se estou cá, não posso
estar lá. Em ambos os estares, eu não consigo realmente estar.
Em suma, não posso estar lá, nem cá.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

É nisto...

É nisto que se esvai.
Que não é nem quando,
nem onde, nem porque.

É na rã que coaxa
sua própria normalidade.
Chega perto a mosca azeda...

O caminho se auto-avisa.

sábado, 11 de setembro de 2010

Irritação cutânea;
que adentra aos poros
e invade o corpo todo.
Impaciência que toma
todo fato de mim.
Fatos que não me alcançam,
lêem em braile
essa minha superfície.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Barulhos com unhas compridas.

Os barulhos de fora ainda são leváveis, mais fáceis de detectar. Os de dentro estão aqui, quase como filhos arranhando a bolsa para estourá-la...e não sei se somos capazes realmente de esperar a hora certa de parir, me parecem estar sempre nascendo prematuros ou mortos pelo atraso. É que apesar dos avisos insistentes, faltam setas para orientar seus paradeiros.

domingo, 29 de agosto de 2010

Alguns são compreendidos
por chorarem suas dores;

outros não.


Alguns choros têm razão;

outros não.

sábado, 14 de agosto de 2010

Por hoje, te peço, me deixe.

Deixe que eu me entregue aos meus descarrilhamentos, que eu possa sair desses trilhos, por vezes, férreos demais. Hoje não adianta, meus lábios não despontarão em sorrisos. E nenhuma beleza apagará o triste. Não ligue para meus olhos inchados, acredite que são de sonos estendidos e não de noites não dormidas. Não toque meu telefone, não bata em minha porta. Me deixe aqui, sendo acariciada pelos tormentos debruçados em meu travesseiro, e que me abraçam feito lençóis. Não desperdice seu tempo trabalhando sobre mim, de modo com que chegue a me compreender. Te digo que as coisas simplesmente são, difícil é que eu seja junto com elas. É assim, inelutável, então deixe com que eu molhe meu rosto com essas gotas salgadas que brotam de meus olhos, porque nem com todas as armas, hoje eu conseguirei sair com alguma fingida altivez.

E que a flor bonita que foi, vá em paz. E que leve a minha junto com ela, como modesto presente meu. Sei que minha paz não é das grandes, mas te ofereço com carinho e desapego. Não se acanhe em aceitar, já aprendi a viver sem ela.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Diariamente poesia.

Quero mais é poesia. Encarar que o banal possui uma poeticidade que ninguém vê, ninguém se dá conta. Quero o canto, quero uma prosa poética. Quero que saiba me encantar; não que queira, simplesmente saiba. Que saia seu encanto e me toque sem querer. Que me revele, coisas que outrora me foi pedido que fechasse os olhos. Quero que me olhe, que me mostre que poesia também existe no olhar. Que me abrace com vontade e não se importe em quanto vai demorar para esse encontro acabar. Posso não viver da arte, mas quero viver com arte. Entender o quanto artístico é o cotidiano de todos nós. Saber que dores nos pintam em novas cores. Saber que infinitos são os desenhos de nossos traços; as esculturas de nossas corpos; os filmes de nossas colisões. Quero perceber dos gestos o muito que eles podem dizer. Sentir junto os respirares profundos. Me aprofundar em tudo que me incite o atrevimento. Me atrever a ser, a querer. A querer mais poesia no real; seja ela dura ou deleitosa, mas que seja assim: poética, como a vida pode e deve ser.

Me despindo.

Me despindo de velhos acréscimos, velhas somas que só faziam era me subtrair, velhas companhias não desejadas, velhos quereres que eu não queria, velhos personagens que, queridos ou não, me afastaram de mim, velhas palavras que não soaram nem como uma coisa nem outra, velhos olhos, velhos olhares, velhos conceitos, velhas roupas, velhos modos, velhos agires, velhas convicções.
Me despindo do que fui, em virtude do que ainda posso ser.
E que tudo que eu seja, realmente me contenha.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

A piteira de Elza.

Pois quando tive que te parir Elza,
eu mesma ainda não havia nascido.

E afim de descobrir teus mistérios,
eu te criava.
E ao te criar,
m i n u c i o s a m e n te,
eu descobria em que consistia
aquilo em que eu me formava.

Talvez vida você já tivesse,
te emprestei somente minhas formas.
E na constância de suas tragadas,
moldei meu olhar para condizer
com suas dissimulações acentuadas.

Dei existência aos seus passos,
seu andar pensante.
Gerei seu egoísmo,
mergulhando em meu próprio.
Por trás de todos seus ardis,
sua reticência era apaixonante.

Genesiei sua história,
por pistas esparsas,
quase inexistentes.
Você era apenas uma fagulha.
A sua vida que foi criada,
e a vida que te criou,
no tempo de convivência
se tornaram concorrentes.

Era você ou eu,
desculpe-me Elza.
Te matei, mas eu te amava.
Hoje encontrei sua piteira;
na caixa de lembranças cinzentas.
E ao lembrar de suas cinzas,
percebi que a mim,
você morreu entrelaçada.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Digestão factual.

Não queria a pressa. Apressadamente lhe cobravam impressões. - Rápido, rápido, essencial sua opinião! - Não entendia a lógica de se querer uma opinião forçosamente criada em segundos. Não engolia sem mastigar e sua digestão era assumidamente lenta. Já que se carregar certos pesos é um peso que se carrega, precisaria pensar, precisaria pesar. Todo aquele tudo. Tudo tão carregado do todo, que nem se quisesse, deixaria de perceber. Quantos dias a folhinha correu, e eles lá, no perigo iminente de estourar. Sensibilidade que perdeu o tom, fechou os olhos e não enxergou os limites alheios, seus queridos estavam cansados. E muito embora a perplexidade, foi de extrema necessidade! Talvez agora entendesse a sucessão de desprazeres que lhe ocorriam.
Os ares egoístas a que se entregara dificultaram sua visão para os traços claros da exaustão e da sobrecarga daqueles que procuravam abafar qualquer ressonância chateadora que pudesse lhe chegar.

Sim, outrora fez o mesmo e não aguentou. O fardo daquele momento foi justamente ouvir-lhes e reconhecer em si tudo o que aqueles dizeres vomitaram por ela.

E o próximo caminho que seja às claras...

quinta-feira, 8 de julho de 2010

REVIRANDO AS FOTOGRAFIAS DE UMA MEMÓRIA QUE VIVE PULSANTE, MESMO QUE OS TEMPOS NÃO VIVAM MAIS.

CINCO CRIANÇAS, EXATAMENTE CINCO CRIANÇAS, QUE SE SABIAM CRIANÇAS (E EM NENHUM MOMENTO COGITAVAM DUVIDAR DESSE FATO). TODAS SORRINDO NUMA PISCININHA DE PLÁSTICO. NÃO IMPORTAVAM QUANTOS LITROS DE ÁGUA CABIAM ALI. NÃO IMPORTAVA, NADA IMPORTAVA ALÉM DA IMAGEM BOA DE UM PRAZER BARATO QUE NÃO PODERIA SER PERDIDO. TEMPO LÍQUIDO, QUE ESCORREU JUNTAMENTE COM A ÁGUA DAQUELA SINGELA PISCINA. AS CRIANÇAS FORAM ESTICANDO EM TAMANHO, SUAS FACES TOMANDO NOVOS CONTORNOS, SEUS CORPOS NOVAS FORMAS. AS CONSIDERAÇÕES E OS JOGOS FICANDO CADA VEZ MAIS PERIGOSOS. AS PISCINAS RASAS CADA VEZ MARES MAIS PROFUNDOS. TUDO MUITO MAIS PENSADO, O SENTIR MAIS CENSURADO, OS SEGREDOS MAIS FREQUENTES E OS DIZERES MAIS HIPÓCRITAS. NINGUÉM SE DAVA CONTA DO MODO COMO ( E ENQUANTO) OS DIAS IAM ATUANDO EM CADA UM DAQUELES PEQUENOS. TODOS FINGIAM NÃO SE DAR CONTA PARA QUE CERTOS ASSUNTOS TIVESSEM, ASSIM, A RAZÃO DE SEREM EVITADOS. A VIDA ENSINA, MESMO QUE O DESEJO ESCANCARADO ERA EVITAR-LHES OS DESGOSTOS DA VIDA. DE NADA ADIANTOU, ELES CRESCERAM E ESTÃO POR AI, VIVENDO. NÃO MAIS SE RECONHECEM, MUITO EMBORA A CHEGADA NA VIDA ADULTA OS CASTIGUEM COM OS MESMOS ENDURECIMENTOS. CADA UM FRIO A SUA MANEIRA, FIRME A SUA MANEIRA. EVITANDO SOFRERES QUE SE MANIFESTAM JUSTAMENTE POR ESSE EVITAR. NÃO SE ENTREGARIAM NUNCA MAIS A UMA TARDE DESPROPOSITADA, EM QUE FORAM FELIZES, PRINCIPALMENTE, POR NÃO PRECISAREM DE MOTIVOS EXPLICÁVEIS PARA TAL. A PISCINA ADORMECE EM RUÍNAS NAQUILO QUE NÃO PODE SER LEMBRADO. AS LEMBRANÇAS DOCES QUE SÓ AO ENVELHECEREM SE DEIXARÃO POR ELAS SEREM TOMADOS. NESTE MOMENTO, AS OBRIGAÇÕES IMPEDEM NOSTALGIAS, CEGAM-LHES A ESPERANÇA DA ALEGRIA SIMPLES E SEM PREÇO, MASCARANDO-SE NUM DISCURSO DE "JÁ FOI-SE O TEMPO DELA EXISTIR".

domingo, 27 de junho de 2010

Intacto, talvez seja bem pior.
Consola-me o choro da quebra de fortalezas, os cacos do visto como inquebrável. Os passos duros olharam para trás, os chãos em que passaram estavam repleto de rachaduras. Costas preguiçosas quiseram levar todo o peso de uma só vez, acredito que não queriam fazer outra viagem (ou acreditaram que a próxima, sendo mais leve, geraria mais sorrisos). Besteira, ninguém aguenta. Tudo explode, tudo implode, tudo rompe, tudo um dia grita "não dá mais". O que não se atenta para as auto-violentações, é violentado pelo outro e nem se dá conta. O bonito também quer ter a possibilidade de ser um pouco feio. O extremo de transformar-se vez ou outra no mais ou menos. Por que ter de ser sempre a primeira forma? Que história é essa de que é a primeira palavra a que vale? A primeira é a mais crua, como exigí-la que seja dura? Eu não quero me calcificar...me deixem brincar com minhas formas, com os infinitos desenhos que posso me dar. Eu tenho medo é dos que são repletos de certezas, dos que são certos de si sem serem seguros de si. Convencer o outro no intuito de convencer a si mesmo daquilo que desacredita. Só pra ser sempre igual, só pra ser sempre o mesmo. Para fugir da contradição, que é nossa por excelência, agarram-se na obviedade banal...e não percebem, que até a obviedade muda. Nada suporta, eu não suporto a "impossibilidade de ser além do que se é", de não ser de bom tom ser aquilo que não se era, de não ser o que esperavam que eu seria, de esperarem algum ser de mim que recuse minhas disposições para ser e não-ser. Descubro-me sempre quando acordo, descubro-me enquanto não durmo, descubro, inclusive, que nunca consigo me descobrir totalmente. Escapulo-me antes de qualquer tentativa de compreensão sobre mim. As compreensões vão vindo gota-a-gota, e quando o balde está quase pra se encher...me irrito profundamente, chuto-o, pois tenho raiva de barrar minhas maneiras que esperam ansiosamente para ser. E para a ascensão de umas, é necessário a derrubada de outras.
Quebrado e reconstruído constantemente, talvez seja bem melhor.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Quando digo que ainda não sei lhes responder, vocês me dão suas majestosas respostas simplificadas e saem satisfeitos, sabendo que não era nada daquilo, mas aquilo cala e vocês consentem. Oferecem-me a cruel reflexão, deixam-me com ela e vão andando com seus sorrisos tranquilos e inocentes. Se não penso nisso é porque tenho consciência de que duas palavrinhas não tapam buracos profundos. E que quando me ponho a cavá-los, não basta somente atingir a profundidade, terei lidar com os desmoronamentos de terras firmes, encontrar fósseis reveladores, estar frente a frente, com passado, futuro e presente...todos desumanamente confusos, dolorosos e aturdidos.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Eu não sei equilibrar-me.
Necessito que me desafiem o equilíbrio,
para que eu possa estabelecê-lo.
Eu por mim, sou extremática.
Hoje eu não posso estar só comigo
(mas assim me obrigo).
Estou prejudicial a minha própria saúde,
tenho uma tarja preta em minhas roupas,
somente eu enxergo, sempre ignoro.
Estou dada a fusões e confusões.
Con-fusiono dores físicas e psicológicas,
danos materias e emocionais,
saudades passadas,
memórias presentes,
presenças saudáveis.
Onde se aprende a passar leve pelo próprio caminho?
Não me ensinaram,
ou me ensurdeci para esses conselhos.
Não reclamo, talvez amanhã eu goste da idéia.
Esse líquido cafeinado que eu não largo,
sempre meu refúgio, sempre do meu lado.
O espelho atrapalhado me ofende,
me censura por me entregar aquela
que, outrora, eu não quis mais ser.
O dia lá fora está bonito,
seria mais, se lá fora conseguisse
deixar de ser aqui dentro.

domingo, 6 de junho de 2010

Talvez não sejam só os anos que passam.
Me mantenho e silencio,
mas papel e caneta não se encaixam.

Na falta de novas palavras,
as velhas ainda se fazem bem vivas.
Nada falseia o passado,
nem o engano das verdades já ditas.
Disseram-me que, quando pequena, recusei a atração do contrato. Sou capaz de concordar, pois, que eu me lembre, minha disposição foi mesmo sempre maior para o contato. Lembro-me que logo desinteressei-me da idéia de me interessar pelo desinteressante. Os interesses tentados me enfiar goela abaixo nunca tocaram meu interesse. Interessante que o que lhes toma de interesse, tão somente; só interessa ao meu desinteresse. Meus interesses se interessam por mim na medida em que lhes pareço interessante, e tão logo, interessada.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Mas nem o sol está isento da expulsão e da vergonha. Fora de cena vê o céu passar a noite com a lua. Amanhecerá e este astro traído cairá novamente nos encantos do azul que lhe oferecerá um buquê de algodões. Ao passar por todos os rubros, cederá; e se deitarão à luz do dia, pois o sol não teme má fama e incinera de paixão. Os olhos que pra cima olharem, hão de perceber, e se por muito tempo a curiosidade permanece, hão de queimar também. O azul se esvai dando outro pontapé no vermelho ardente, que se esconde de humilhação na primeira montanha que encontra, ou faz outra de suas tentativas de se afogar no mar. Nesta hora, novamente o espetáculo dos contrastes. O preto que espera pela musa branca trajada de virgem. As estrelinhas tímidas se acendem, mas pouco iluminam, pois das traições noturnas todos preferem fechar os olhos.

quarta-feira, 5 de maio de 2010



Te olhar com afinco...
nesses dias à beira de nós mesmos, nada mais talvez importe. Estar presente e conspirarmos juntos as mais completas vivências que não planejamos.
Te encontro em meu próximo desencontro; que certamente virá. Assim me viro, me varro, me jogo ao relento. Toparemos!... vivifico!...recupero tudo aquilo que sei que nunca se foi. Só se vai inteiramente o que não soube ficar....e desse não me valho. Gosto do que acarinha meu sentir, e do que sinto que atordoa meu gostar. Gostar que só se sabe reinventar! E que cada condição me faça pegar uma nova condução.
Recordo vagamente, escapula-me a lembrança exata...por que repetí-la seria uma grande bobagem. Pra quem não se toma como igual, que nada toque como ontem.
Por favor, um novo jeito, uma nova maneira! Pra que seja bom, pra que faça bem...para que dias como esses fiquem como centelha de esperança em nossos olhares... que, é sabido, se debruçarão em outros; mas um dia, quem sabe, voltarão a se encontrar.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Por querer bem meu querer,
quero meu bem-querer
bem querendo
seu bem.
Esse algo que me toma,
como se algo fosse eu.
Não sou de sua circunstância,
tampouco quero isso que é seu.

Me debruço nos pormenores,
do todo que me insiste...
Insistência que me entrega,
àquilo que nem existe.

Existir à sua forma,
de figura metamorfoseada.
Indo na contramão,
de uma paz enxameada.

Derrames da memória,
dos segundos que virão.
Loucuras, distorções,
certamente, não em vão.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

AMÁGUA AMÉM

Em comunhão com as águas,
faço do mar minha oração.
E neste silêncio de sim,
vou aprendendo a dizer não.

Pois nada fere mais a pedra,
que o vai-e-vem da maré.
E nem por isso deixa de amá-la,
exatamente como ela é.

Entendendo a contragosto,
a dinâmica dos portos.
Na convivência dos que chegam e partem,
o coração não mede esforços.

Com os pés no chão,
e o resto no vento.
Essa umidade que me salga,
é meu mais forte alento.