sábado, 5 de dezembro de 2009

Tempo irrisório! Segundos na espreita, minutos de soslaio, hora do bote...horas: atacar!
...é, fugiu!

- Quer tentar denovo? Ainda temos tempo. - Como se tivessemos tempo sobrando... - Temos. - Escuta aqui, já parou para olhar em volta? - Não, e nem você. A diferença é que tenho razões para isso. - E eu as invento. - E crê nelas. - Tem como não crer na farsa? - Tem, assim que você descobrir qual é ela.- Tem pistas? - Todo momento. - E se todo momento for também impostura? - Você quis, não quis? - Tanto quanto você. - Não, o contrário. - O quê? - Acho que era para eu ter dito isso.

Permaneceram jogando inversões, e que nossa lógica os perdoe. O tempo acompanha ou é acompanhado?
Que cheguem os tempos de longas compreensões. Longas e poucas.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Páginas percorridas.
Um livro,
um tempo.
Tempo que faltou.
Faltam memórias.
Letras, frases, versos.
Destroem,
pouco a pouco,
o imaginativo do pouco real.
Nem imagem, nem ação.
Ler tudo ao contrário;
contra-edição,
contradição.
Partir do início ou fim,
já nem me importo,
olhos percorrem por si sós,
encaixes não param.
Procurar a volta ao tempo,
retorno ao antes-tempo;
nem história,
nem música,
nem poesia.
Sensação da palavra,
fugidia,
impressão que não traduz.
Gordo nada,
rechonchudo de significações
coisas que não querem dizer.
Querem das outras,
obrigação do próprio fechamento.
Palavras fechadas,
um quê de morte;
há as que não morrem.
Sobreviver à tragédia,
Nascimento do próximo,
próprio tempo.
Estantes recheadas.
Abro,
me engole.
Novamente no tempo,
todas as possibilidades.
Sem me utilizar de anteriores.

Sempre um marinheiro de primeira viagem,
que nem sabe o que é o mar.
Não sabendo, mergulha.
E se não é assim que é,
assim tem sido.
Tem bem sido!
Apesar da exaustão do afogamento,
do gosto novo do velho sal
é de que gosta meu paladar.

domingo, 11 de outubro de 2009

Eu devia era saber, saber que nunca mais saberia daquele casal de farrapos miúdos que sentavam na grama e não esperavam o vento passar. Eu os olhava, olhava de longe. Espaço pra perto só existia entre eles e ainda sim, não se preenchia. Choro de um, decadência de dois. Abatimento de quem se entregou ao sabor sem o querer. Do doce, o amargo; do suplício, a rendição. Pudicos nem na alma. O gozo da vida que não chegara. Na busca, as mãos dadas; doadas para que se equilibrassem as desilusões, os desafetos, os desamores. Sabiam que as pernas assincrônicas caminhariam juntas, mas somente elas. Os sonhos percorriam caminhos distintos a cada criança que passava correndo. O passado não se apagava e do futuro nada esperavam. Os pés presentes rolavam tais quais pedras num barranco, pontiagudos forçavam cambalhotas doloridas. No discurso das passadas leves, enganavam os inocentes transeuntes. Estes inocentes que passam e não duram, que nunca passam do efeito para a causa. Eram causas consolidadas, mas não duráveis. A permanência duraria enquanto durasse a inconstância de ambos, enquanto durassem os beijos frustrados com excesso de ausências. Trépidos jogadores de vida. Avassaladores exemplos de nada. Um e um que não somavam dois. Dois que não davam um.

domingo, 27 de setembro de 2009

E de tudo, somente encaixa o explosivo abismo do "Ah", epifania sobre-real, experiência multi-facetada. Quase cantando "havia de ser com você"...repensando, "havia de ser mesmo em mim". O que resplandeceu já estava contido em si. Abafado, esperando. E da espera, nada se perde, mas, sobretudo, se amplia.Assim,ligando-me ao momento "Ah", aquele onde tudo se encaixa com tamanha lucidez que espanta, que agita, que revira, que clareia os passos mais obscuros do ser andante. Os olhos doem por tanto tempo condicionados a esquecer quem é a tal claridade, e os efeitos que ela te causa. Sair deste movimento pendular em que se abrem e se fecham, sempre na mesma escuridão. Se tudo flui, por que, justo eu, hei de ficar? Me livrem do fantasma da passividade, da falsa impressão da dor do seu sendo-me alheia. Hoje, me desculpem, mas eu não quero anestesia! Seu sedativo que se baste!


Sei lá, o que sei bem é que foi lá, no mais estranho desse mesmo. AH! Estende-se longamente, entendendo perfeitamente os HUNS que se moldam aos mais silenciosos e confidentes risos...um grito, verdadeiramente, inaudível.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Poeta da incompletude.


Chamar de libertino o que busca metades ébrias, esboços inquietos, parideiras de almas?
Chamar de parvo o que vive na corrida incessante de encontrar seu horizonte impossível?
Impalpavél tua imagem que foge dos encantos retorcidos de meus desejos.
Delírios equilibristas sobrevivem ao correr dos cotidianos, se revelando em tuas mais obscenas especulações.
Esculturada com esmero tua máscara social, suportando heróicamente às facas cravadas no peito.
Sobretudo, um nó incestuoso submisso as leis frágeis do espírito desalinhado.
Um líquido volátil exposto a chamas incognoscíveis.
Um pretencioso nato que se apaixona pelos percalços entranhados nas jogatas permanentes de tua conduta inebriante.
O inconveniente da calma, o pessimista da vantagem, o furo do vácuo, a modéstia do supérfluo, o autêntico da mentira, a exposição da timidez, a discrição da extravagância.
Aquele que se assemelha, como ninguém, aos meus rebentos, à dimensão mais profunda do que quero escapar, à tentação mais voluptuosa de me associar.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

PARVALELOS PARACEGOS

Se se se, cegonha maldita!
Malvendo minha vergonhanta.
Anta estribuchada...
buchada de bode!
O almoço tá pronto!
Veste Joaquininha,
vestindinho meu quintal.
Comermoendo a sacrossanta.
Poder rosa latrina!
Late late filhindigno.
Hino à liberaudade.
Vem cá, vem...
vem correramar!

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Coubera ao destino
o sangue e os nomes.
Foi-se embora
e me deixara a cruz,
a Maria e a Madalena.
Ser o quê?
Divinizada ou atacada?
Mãe ou mulher?
Santa ou prostituta?
Até hoje não sei...
se em Madalena cabia Maria,
e em Maria, Madalena.
E deste coração,
Faço o quê?
Pratico compaixões
ou o mato com paixões?
E deste vinho,
o que floresce?
Seu corpo ou o meu?
O nosso, talvez.
Este que nos mescla,
renúncia e entrega.
Porque se existe um erro,
este certamente fui eu,
e sobretudo foi seu!
Seu grande legado,
seu grande engano,
minha grande confusão.
Ser neta de Maria e de Madalena.
Eis a minha confissão!

quarta-feira, 26 de agosto de 2009


Discípula de meu avô. Bastante para aquela que assumiria como ofício o sonhar. Um contador de histórias que me presenteara com muitos contos e personagens.Só hoje sou capaz de me dar conta que todos estavam condensados e inseridos na figura do velho jacu.
De mim, pequena e sem plantios, fez terreno fértil.
O homem de gestos largos e sorriso exorbitante, o príncipe da pitinha que chegara num burro manco.
Aquele que, como ninguém, assumiu ser tonto sem ser tonto, na vaidade do caipira alumiado pelas promessas da cidade.O olhar que me concedeu alvará para ser e buscar todos aqueles que fora.A profecia de suas contidas palavras,que me atrevo a dizer versificadas e portadoras de incrível força poética.A transparência da pele escurecida por anos de refúgio na memória, para que fosse capaz de suportar a falta do sol escaldante e da terra, o qual por toda a vida quis voltar. A maciez e delicadeza do toque das mãos grossas e calejadas.
Mudaste a música com sabedoria suprema, e ao fiel papagaio coube reconhecer. Um casamento perfeito: meu velho e sua ave, que reconheciam-se numa gargalhada escandalosa, deixando em pé os cabelos de minha avó.
Se hoje viessemos a conversar, sei que muito me censuraria. Pelo corte do cabelo, pela lágrima dos olhos e pelas tantas perguntas à vida. Me perdoe, mas hei de confessar que por vezes o sorriso é forçado, e o encanto do ofício não me basta. Fui envenenada pelo derrame de vazios, e talvez isso me impeça estar entregue à sua lição de simplicidade. Mas os anos hão de passar e no fim de meus dias hei de entender seu sorriso pleno e sua completude...e sairei altiva com seu chapéu cantarolando uma moda de viola que colocará em suma os perdizes dessa vida.

domingo, 23 de agosto de 2009

Cara-a-cara com o lobo; e essa dificuldade extrema de aceitar a realidade dos lobos estarem cara-a-cara. Incrível a relutância amedrontada contra os uivos interiores...

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Estímulo geométrico.
Respostas enquadradas.
Presas na cela uniforme,
desta voz uniformizada.

Rompa, rompa, rompa!
Rasgue essa armadilha.
Não caia nesse cimento.
Vá desritmado!
Saia deste ar madurado,
que te ordena.
Receba a cisma,
o cisco do olho.
Pois o choro,
o choro clareia.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Passos rastejantes vinham te trazendo. Descascando, descamando.Todas as cascas à mostra em camadas claras.Transparência de um abstêmio. Urrava ausências, faltas.Dementes lástimas!
Por quê deveria eu te guardar? Eu, que neste mundo nada fui, além da imagem palpável de uma compreensão certa. Uma liberta que se fechou na cela, para que nunca achasse que a idéia era te prender. Te embrulhei asas em papéis de seda rosados, e deixei na porta de tua casa.Do lado de fora, pois sempre achei melhor não entrar. Lembro-me da vez que entrei, aqueles ares familiares me jorrando acolhimento.Fugi!Antes que se tornasse insuportável.Insuportável sorver tantas ternuras, que em verdade, não vinham de ti.De ti veio a obrigação, a obrigação de que fosse eterno, e julgo que é por isso que acabou tão rápido. Nunca me permitiu ser refração, somente refleti, e desta forma, nada te dei.Entrou e saiu.Entrou e saiu igual.O que, confesso, não me cabe, nunca me coube. Me é doída essa noção, de que tudo queria me dar e nada receber. Dois lados opostos na condição de estarem grudados.Um opaco, um envernizado. Envernizado de cegar.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

VALENTINA

Valentina; por nome, o dever e a sina.Nasceu em meio à peste, misérias colossais.De direito o mero fato, de atravessar temporais.

Queria ser Joana, Amélia, Maria. Subir ao altar, preocupar-se com as rendas.Ao marido amado, seis filhos.Cantarolar doces sonhos em meio às cuecas e às moendas.

Repetir tudo aquilo que a mãe não fizera. Coragem, ousadia. Sem resguardos, sem louvores. Valentina: mulher forte todo dia.

Passos leves vetados, sorrisos esquecidos.O amor por entre as gentes, não existe. O cravo casou com rosa, o mar com a solidão. Para ela, única lei. Só é digno se for triste.

Sai correndo fugitiva. Se esconder daqueles olhos que não cansam de lhe implorar. A realidade foi presente. Valentina, você não pode chorar!

Valentina; por nome, o dever e a sina.Nasceu em meio à peste, misérias colossais.De direito o mero fato, de atravessar temporais.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Me perdoes a sutileza da amarga despedida.
Sei que carregas uma alma repleta de remendos,
e um coração cansado de partidas.
Incitar-te a loucura, eu não seria capaz.
Já basta-me a minha, que insiste em ver belo
o que, por vezes, apenas foi triste.
Não penses que não compreendi o clamor de teus olhos,
ao contrário, por eles escrevo estas palavras.
Liberto-te desta missão que julgavas ser tua.
Podes ir, percorrer a busca da água sem fogo.
Nada obriga-te a caminhar por trilhas tortuosas.
Não há lei que proiba amor sem precipícios.
Não me desenhes docuras, encantos.
O que existe cá dentro é poço fundo,
até santa cuspiria-me na cara por tanta escavação.
Vás buscar verdade serena e calmaria!
Livro-te desta edificada ilusão!
Fujas rápido deste terreno,
deste terreno propício à devastação!

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Agora te dou estes versos,
como quem dá o filho primeiro.
Aceitando meus erros,
sentenciados por seu dedo ligeiro.

Agora faço essa rima,
como que acata o devir.
Sabendo que o nascer,
foi muito além do parir.

Agora fecho meus olhos,
como quem engole o mundo inteiro.
Gozando pelos poros,
desde a encosta até o meio.

Agora jogo com seus medos,
como quem do outro tudo quer sentir.
Lutando contra a sina,
de que logo mais hei de partir.

sábado, 15 de agosto de 2009

SOLAVANCO

As mãos dessa menina,
revivendo teu dom de pausar.
Amava-te pequenina,
antes mesmo de clarear.

Única lúcida!
Nós? Inter-predados
Visível civilidade,
frutos forjados.

Nascemos na era,
de se mentir sensatez.
Pálidos bons modos,
declarando uma utópica limpidez.

Prece violenta,
arranca-te daqui.
Agora vens e queres roubar,
aquilo que um dia me salvou de ti.

"Que Deus me livre,
dos olhos do acaso!"

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Guardarei o que em mim reside...

E quando foi que não tive sede?
E quando foi que poesia nada me disse?
Simultaneamente a quando eu muito a dizia também.
Ensinaprende quem ensina a mente
que aprendensina quem aprende a sina.
O sentimento antecessor assessorado por sentimentalidades inúteis.Inutilidades vitais.Todo o exagero que sobra e transborda, fertilizando o dispensável.Dispenso o favorável, hoje quero desmembrar-me.Sensações cortantes, esfaqueando a estabilidade e a estaticidade.Sou móvel e mobilizador.Agente da causa e do efeito.Descobri a sede e a fome, cheias de rugas e marcas profundas.O que me saciaria? Satisfação plena? Não creio, porém procuro insaciadamente. E minha palavra torna-se minha procura e minha procura fica sendo minha palavra.Te busquei em cada rumor do vento.A fruta não estava madura, mas apodreceu. Azedume adocicado amargando minha boca.