segunda-feira, 31 de agosto de 2009

PARVALELOS PARACEGOS

Se se se, cegonha maldita!
Malvendo minha vergonhanta.
Anta estribuchada...
buchada de bode!
O almoço tá pronto!
Veste Joaquininha,
vestindinho meu quintal.
Comermoendo a sacrossanta.
Poder rosa latrina!
Late late filhindigno.
Hino à liberaudade.
Vem cá, vem...
vem correramar!

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Coubera ao destino
o sangue e os nomes.
Foi-se embora
e me deixara a cruz,
a Maria e a Madalena.
Ser o quê?
Divinizada ou atacada?
Mãe ou mulher?
Santa ou prostituta?
Até hoje não sei...
se em Madalena cabia Maria,
e em Maria, Madalena.
E deste coração,
Faço o quê?
Pratico compaixões
ou o mato com paixões?
E deste vinho,
o que floresce?
Seu corpo ou o meu?
O nosso, talvez.
Este que nos mescla,
renúncia e entrega.
Porque se existe um erro,
este certamente fui eu,
e sobretudo foi seu!
Seu grande legado,
seu grande engano,
minha grande confusão.
Ser neta de Maria e de Madalena.
Eis a minha confissão!

quarta-feira, 26 de agosto de 2009


Discípula de meu avô. Bastante para aquela que assumiria como ofício o sonhar. Um contador de histórias que me presenteara com muitos contos e personagens.Só hoje sou capaz de me dar conta que todos estavam condensados e inseridos na figura do velho jacu.
De mim, pequena e sem plantios, fez terreno fértil.
O homem de gestos largos e sorriso exorbitante, o príncipe da pitinha que chegara num burro manco.
Aquele que, como ninguém, assumiu ser tonto sem ser tonto, na vaidade do caipira alumiado pelas promessas da cidade.O olhar que me concedeu alvará para ser e buscar todos aqueles que fora.A profecia de suas contidas palavras,que me atrevo a dizer versificadas e portadoras de incrível força poética.A transparência da pele escurecida por anos de refúgio na memória, para que fosse capaz de suportar a falta do sol escaldante e da terra, o qual por toda a vida quis voltar. A maciez e delicadeza do toque das mãos grossas e calejadas.
Mudaste a música com sabedoria suprema, e ao fiel papagaio coube reconhecer. Um casamento perfeito: meu velho e sua ave, que reconheciam-se numa gargalhada escandalosa, deixando em pé os cabelos de minha avó.
Se hoje viessemos a conversar, sei que muito me censuraria. Pelo corte do cabelo, pela lágrima dos olhos e pelas tantas perguntas à vida. Me perdoe, mas hei de confessar que por vezes o sorriso é forçado, e o encanto do ofício não me basta. Fui envenenada pelo derrame de vazios, e talvez isso me impeça estar entregue à sua lição de simplicidade. Mas os anos hão de passar e no fim de meus dias hei de entender seu sorriso pleno e sua completude...e sairei altiva com seu chapéu cantarolando uma moda de viola que colocará em suma os perdizes dessa vida.

domingo, 23 de agosto de 2009

Cara-a-cara com o lobo; e essa dificuldade extrema de aceitar a realidade dos lobos estarem cara-a-cara. Incrível a relutância amedrontada contra os uivos interiores...

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Estímulo geométrico.
Respostas enquadradas.
Presas na cela uniforme,
desta voz uniformizada.

Rompa, rompa, rompa!
Rasgue essa armadilha.
Não caia nesse cimento.
Vá desritmado!
Saia deste ar madurado,
que te ordena.
Receba a cisma,
o cisco do olho.
Pois o choro,
o choro clareia.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Passos rastejantes vinham te trazendo. Descascando, descamando.Todas as cascas à mostra em camadas claras.Transparência de um abstêmio. Urrava ausências, faltas.Dementes lástimas!
Por quê deveria eu te guardar? Eu, que neste mundo nada fui, além da imagem palpável de uma compreensão certa. Uma liberta que se fechou na cela, para que nunca achasse que a idéia era te prender. Te embrulhei asas em papéis de seda rosados, e deixei na porta de tua casa.Do lado de fora, pois sempre achei melhor não entrar. Lembro-me da vez que entrei, aqueles ares familiares me jorrando acolhimento.Fugi!Antes que se tornasse insuportável.Insuportável sorver tantas ternuras, que em verdade, não vinham de ti.De ti veio a obrigação, a obrigação de que fosse eterno, e julgo que é por isso que acabou tão rápido. Nunca me permitiu ser refração, somente refleti, e desta forma, nada te dei.Entrou e saiu.Entrou e saiu igual.O que, confesso, não me cabe, nunca me coube. Me é doída essa noção, de que tudo queria me dar e nada receber. Dois lados opostos na condição de estarem grudados.Um opaco, um envernizado. Envernizado de cegar.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

VALENTINA

Valentina; por nome, o dever e a sina.Nasceu em meio à peste, misérias colossais.De direito o mero fato, de atravessar temporais.

Queria ser Joana, Amélia, Maria. Subir ao altar, preocupar-se com as rendas.Ao marido amado, seis filhos.Cantarolar doces sonhos em meio às cuecas e às moendas.

Repetir tudo aquilo que a mãe não fizera. Coragem, ousadia. Sem resguardos, sem louvores. Valentina: mulher forte todo dia.

Passos leves vetados, sorrisos esquecidos.O amor por entre as gentes, não existe. O cravo casou com rosa, o mar com a solidão. Para ela, única lei. Só é digno se for triste.

Sai correndo fugitiva. Se esconder daqueles olhos que não cansam de lhe implorar. A realidade foi presente. Valentina, você não pode chorar!

Valentina; por nome, o dever e a sina.Nasceu em meio à peste, misérias colossais.De direito o mero fato, de atravessar temporais.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Me perdoes a sutileza da amarga despedida.
Sei que carregas uma alma repleta de remendos,
e um coração cansado de partidas.
Incitar-te a loucura, eu não seria capaz.
Já basta-me a minha, que insiste em ver belo
o que, por vezes, apenas foi triste.
Não penses que não compreendi o clamor de teus olhos,
ao contrário, por eles escrevo estas palavras.
Liberto-te desta missão que julgavas ser tua.
Podes ir, percorrer a busca da água sem fogo.
Nada obriga-te a caminhar por trilhas tortuosas.
Não há lei que proiba amor sem precipícios.
Não me desenhes docuras, encantos.
O que existe cá dentro é poço fundo,
até santa cuspiria-me na cara por tanta escavação.
Vás buscar verdade serena e calmaria!
Livro-te desta edificada ilusão!
Fujas rápido deste terreno,
deste terreno propício à devastação!

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Agora te dou estes versos,
como quem dá o filho primeiro.
Aceitando meus erros,
sentenciados por seu dedo ligeiro.

Agora faço essa rima,
como que acata o devir.
Sabendo que o nascer,
foi muito além do parir.

Agora fecho meus olhos,
como quem engole o mundo inteiro.
Gozando pelos poros,
desde a encosta até o meio.

Agora jogo com seus medos,
como quem do outro tudo quer sentir.
Lutando contra a sina,
de que logo mais hei de partir.

sábado, 15 de agosto de 2009

SOLAVANCO

As mãos dessa menina,
revivendo teu dom de pausar.
Amava-te pequenina,
antes mesmo de clarear.

Única lúcida!
Nós? Inter-predados
Visível civilidade,
frutos forjados.

Nascemos na era,
de se mentir sensatez.
Pálidos bons modos,
declarando uma utópica limpidez.

Prece violenta,
arranca-te daqui.
Agora vens e queres roubar,
aquilo que um dia me salvou de ti.

"Que Deus me livre,
dos olhos do acaso!"

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Guardarei o que em mim reside...

E quando foi que não tive sede?
E quando foi que poesia nada me disse?
Simultaneamente a quando eu muito a dizia também.
Ensinaprende quem ensina a mente
que aprendensina quem aprende a sina.
O sentimento antecessor assessorado por sentimentalidades inúteis.Inutilidades vitais.Todo o exagero que sobra e transborda, fertilizando o dispensável.Dispenso o favorável, hoje quero desmembrar-me.Sensações cortantes, esfaqueando a estabilidade e a estaticidade.Sou móvel e mobilizador.Agente da causa e do efeito.Descobri a sede e a fome, cheias de rugas e marcas profundas.O que me saciaria? Satisfação plena? Não creio, porém procuro insaciadamente. E minha palavra torna-se minha procura e minha procura fica sendo minha palavra.Te busquei em cada rumor do vento.A fruta não estava madura, mas apodreceu. Azedume adocicado amargando minha boca.