sexta-feira, 23 de julho de 2010

A piteira de Elza.

Pois quando tive que te parir Elza,
eu mesma ainda não havia nascido.

E afim de descobrir teus mistérios,
eu te criava.
E ao te criar,
m i n u c i o s a m e n te,
eu descobria em que consistia
aquilo em que eu me formava.

Talvez vida você já tivesse,
te emprestei somente minhas formas.
E na constância de suas tragadas,
moldei meu olhar para condizer
com suas dissimulações acentuadas.

Dei existência aos seus passos,
seu andar pensante.
Gerei seu egoísmo,
mergulhando em meu próprio.
Por trás de todos seus ardis,
sua reticência era apaixonante.

Genesiei sua história,
por pistas esparsas,
quase inexistentes.
Você era apenas uma fagulha.
A sua vida que foi criada,
e a vida que te criou,
no tempo de convivência
se tornaram concorrentes.

Era você ou eu,
desculpe-me Elza.
Te matei, mas eu te amava.
Hoje encontrei sua piteira;
na caixa de lembranças cinzentas.
E ao lembrar de suas cinzas,
percebi que a mim,
você morreu entrelaçada.

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