terça-feira, 11 de junho de 2013

O retorno da miscelânea mental.

A pele arrepiada denunciava frio. Olhei o teto demoradamente e levantei-me. Despi-me. Fui nua até o espelho mais próximo e inspecionei cada milímetro de meu corpo. Acho que engordei. Já no banheiro senti-me enjoada e fiquei poucos minutos de cócoras frente ao vaso sanitário. Certamente um raciocínio julgando-se certeiro me diria: deve estar grávida. Para este, me viria somente uma resposta para apaziguar-lhe o espírito: impossível, não estou fértil. Se bem que... um filho talvez fosse legal. Uma companhia. Um grito ensurdecedor da criança que mora ao lado vem promovendo rupturas. Não, possível criança que ainda não existe, não se assuste. Como posso querer uma companhia na infertilidade, não é mesmo? Pergunto a um terceiro: você me acha louca? Não sei, a pouco deixei que me convencessem de minha loucura. Todo monólogo interior fluído que me toma. Todo enjoo. Toda criança. Todo arrepio. Toda frieza. Toda extrema sensibilidade. Toda flor da pele. Retomo e tenho a certeza de que estavam certos. Vou para debaixo do chuveiro. O frio prossegue. Coloco-o no modo desligado. O enjoo aumenta. Hoje faz sete anos que você se foi. Ano passado eu pude chorar mais a sua falta. Eu ainda estava sendo tomada como louca. Desliguei a razão. Não sei se acredito nela. E escolher da mesma meu instrumento de trabalho talvez seja o protesto de minha irracionalidade, minha resistência. Não tenho ciência, temo a Ciência. Resisto ao frio. Eu nunca senti verdadeiramente frio. Você já sentiu? Pergunta incômoda. Não gostam das minhas perguntas. Hoje a rede de esgoto da casa entupiu. A casa inteira cheirou a esgoto e evidenciou a podridão. Ao lado do último lugar em que morei, em outra cidade, se encontrava uma caixa de gordura. Ali se instaurava a sujeira de todo o condomínio. Vez ou outra alguém limpava. Vez ou outra eu me dava conta de como eu sou suja. E era impossível tirar tal constatação dos meus dias. Sai de lá, talvez como louca e pesada, mas não como suja. E eu sou mesmo suja. Outra constatação para essa noite fria: moro novamente próximo ao cemitério e à Avenida Saudade. O grito das crianças tem razão. Ter um filho não é uma boa ideia. Não se pode ser companhia na infertilidade. 

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