sexta-feira, 23 de julho de 2010

A piteira de Elza.

Pois quando tive que te parir Elza,
eu mesma ainda não havia nascido.

E afim de descobrir teus mistérios,
eu te criava.
E ao te criar,
m i n u c i o s a m e n te,
eu descobria em que consistia
aquilo em que eu me formava.

Talvez vida você já tivesse,
te emprestei somente minhas formas.
E na constância de suas tragadas,
moldei meu olhar para condizer
com suas dissimulações acentuadas.

Dei existência aos seus passos,
seu andar pensante.
Gerei seu egoísmo,
mergulhando em meu próprio.
Por trás de todos seus ardis,
sua reticência era apaixonante.

Genesiei sua história,
por pistas esparsas,
quase inexistentes.
Você era apenas uma fagulha.
A sua vida que foi criada,
e a vida que te criou,
no tempo de convivência
se tornaram concorrentes.

Era você ou eu,
desculpe-me Elza.
Te matei, mas eu te amava.
Hoje encontrei sua piteira;
na caixa de lembranças cinzentas.
E ao lembrar de suas cinzas,
percebi que a mim,
você morreu entrelaçada.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Digestão factual.

Não queria a pressa. Apressadamente lhe cobravam impressões. - Rápido, rápido, essencial sua opinião! - Não entendia a lógica de se querer uma opinião forçosamente criada em segundos. Não engolia sem mastigar e sua digestão era assumidamente lenta. Já que se carregar certos pesos é um peso que se carrega, precisaria pensar, precisaria pesar. Todo aquele tudo. Tudo tão carregado do todo, que nem se quisesse, deixaria de perceber. Quantos dias a folhinha correu, e eles lá, no perigo iminente de estourar. Sensibilidade que perdeu o tom, fechou os olhos e não enxergou os limites alheios, seus queridos estavam cansados. E muito embora a perplexidade, foi de extrema necessidade! Talvez agora entendesse a sucessão de desprazeres que lhe ocorriam.
Os ares egoístas a que se entregara dificultaram sua visão para os traços claros da exaustão e da sobrecarga daqueles que procuravam abafar qualquer ressonância chateadora que pudesse lhe chegar.

Sim, outrora fez o mesmo e não aguentou. O fardo daquele momento foi justamente ouvir-lhes e reconhecer em si tudo o que aqueles dizeres vomitaram por ela.

E o próximo caminho que seja às claras...

quinta-feira, 8 de julho de 2010

REVIRANDO AS FOTOGRAFIAS DE UMA MEMÓRIA QUE VIVE PULSANTE, MESMO QUE OS TEMPOS NÃO VIVAM MAIS.

CINCO CRIANÇAS, EXATAMENTE CINCO CRIANÇAS, QUE SE SABIAM CRIANÇAS (E EM NENHUM MOMENTO COGITAVAM DUVIDAR DESSE FATO). TODAS SORRINDO NUMA PISCININHA DE PLÁSTICO. NÃO IMPORTAVAM QUANTOS LITROS DE ÁGUA CABIAM ALI. NÃO IMPORTAVA, NADA IMPORTAVA ALÉM DA IMAGEM BOA DE UM PRAZER BARATO QUE NÃO PODERIA SER PERDIDO. TEMPO LÍQUIDO, QUE ESCORREU JUNTAMENTE COM A ÁGUA DAQUELA SINGELA PISCINA. AS CRIANÇAS FORAM ESTICANDO EM TAMANHO, SUAS FACES TOMANDO NOVOS CONTORNOS, SEUS CORPOS NOVAS FORMAS. AS CONSIDERAÇÕES E OS JOGOS FICANDO CADA VEZ MAIS PERIGOSOS. AS PISCINAS RASAS CADA VEZ MARES MAIS PROFUNDOS. TUDO MUITO MAIS PENSADO, O SENTIR MAIS CENSURADO, OS SEGREDOS MAIS FREQUENTES E OS DIZERES MAIS HIPÓCRITAS. NINGUÉM SE DAVA CONTA DO MODO COMO ( E ENQUANTO) OS DIAS IAM ATUANDO EM CADA UM DAQUELES PEQUENOS. TODOS FINGIAM NÃO SE DAR CONTA PARA QUE CERTOS ASSUNTOS TIVESSEM, ASSIM, A RAZÃO DE SEREM EVITADOS. A VIDA ENSINA, MESMO QUE O DESEJO ESCANCARADO ERA EVITAR-LHES OS DESGOSTOS DA VIDA. DE NADA ADIANTOU, ELES CRESCERAM E ESTÃO POR AI, VIVENDO. NÃO MAIS SE RECONHECEM, MUITO EMBORA A CHEGADA NA VIDA ADULTA OS CASTIGUEM COM OS MESMOS ENDURECIMENTOS. CADA UM FRIO A SUA MANEIRA, FIRME A SUA MANEIRA. EVITANDO SOFRERES QUE SE MANIFESTAM JUSTAMENTE POR ESSE EVITAR. NÃO SE ENTREGARIAM NUNCA MAIS A UMA TARDE DESPROPOSITADA, EM QUE FORAM FELIZES, PRINCIPALMENTE, POR NÃO PRECISAREM DE MOTIVOS EXPLICÁVEIS PARA TAL. A PISCINA ADORMECE EM RUÍNAS NAQUILO QUE NÃO PODE SER LEMBRADO. AS LEMBRANÇAS DOCES QUE SÓ AO ENVELHECEREM SE DEIXARÃO POR ELAS SEREM TOMADOS. NESTE MOMENTO, AS OBRIGAÇÕES IMPEDEM NOSTALGIAS, CEGAM-LHES A ESPERANÇA DA ALEGRIA SIMPLES E SEM PREÇO, MASCARANDO-SE NUM DISCURSO DE "JÁ FOI-SE O TEMPO DELA EXISTIR".