sábado, 24 de agosto de 2013

da metáfora "Doce versus Amargo"

Certa vez, comigo ainda criança, disseram-me que para tirar o gosto amargo da boca era preciso comer coisas doces. Lembro-me que, como primeira reação, respondi - quase que numa espécie de protesto: Mas esse gosto ruim na boca estraga até o gosto bom do doce!
Minha cabeça maquinou um tanto mais naquele instante (e nos muitos outros instantes que se sucederam)... Realmente, as coisas doces tem transformado seu sabor quando o paladar está tomado pelo amargo do que comi anteriormente. Mas, são estragados somente os posteriores primeiros sabores; aos poucos, o doce vai retomando seu verdadeiro sabor, que é bom e do qual eu sempre gostei. 
Como existem metáforas que mais são feitas para traduzir-nos a parcela intraduzível da vida; a questão foi retomada sob outros aspectos – aspectos condizentes com as vivências e criações já do passar dos anos.  A questão principal foi acompanhada, como toda boa questão, de vários consequentes questionamentos.
Os doces que vem depois do amargo nada mais são do que uma coisa tomada e interpretada por outra coisa, ou seja, algo distorcido pelo paladar de quem o come. Entretanto, se não houverem sabores sacrificados – e a abertura para novas experimentações, ainda que estas primeiras não sejam tão gostosas – o amargo ficará eternamente nessa boca.
Se antes, ainda que intrigante, o problema pudesse ser facilmente resolvido com um empanturramento irresponsável de doces, sem lhes prestar atenção ao gosto, até que não mais houvesse amargo na boca; hoje, os doces e o amargo com traços humanos, torna a resolução não tão simples assim.
O que me cabe, enfim? Escolher a mim e à recuperação de meu paladar, e assumir, como consequência inescapável, a negação - fruto da distorção do que anteriormente veio – desses inocentes doces verdadeiros que se apresentam a mim com a melhor das intenções? Ou escolher ao não sacrifício do verdadeiro sabor de alguns outros e morrer com o paladar amargo, esquecendo até de como eu gostava de doces?



A saber: não tenho resposta. Prossigo no paladar amargo e já fui cruel com alguns doces bem-intencionados e inofensivos. 

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